Resenha: A vida que ninguém vê

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A vida que ninguém vê retrata o que seu próprio título já diz. Histórias de pessoas comuns, que fazem parte do cotidiano de milhares de habitantes espalhados pelo mundo. Personalidades invisíveis com histórias marcantes. Criaturas que não são notadas, que vivem na rua, marginalizadas. Espalhadas pelo Brasil afora, nas calçadas, nos hospitais, nas comunidades, que passam e não são observadas. 

São 21 crônicas curtas, emotivas, repletas de metáforas, que conseguem prender o leitor do início ao fim das páginas. Apesar de pequenos, os contos são uma verdadeira lição de vida para quem lê. É impossível não lembrar dos tantos Antônios, fridas, Camilas e sapos que passaram pelas nossas manhãs apressadas e corridas, em que apenas nossa vida importa e a dos outros é uma ilha inabitável, que não nos diz respeito. Pessoas que jamais virariam notícia na pauta convencional do jornalismo. Pessoas ignoradas por nós e esquecidas pela vida. 

“Debaixo de um sinal vermelho, o som entrando pelo vidro fechado, ameaçador como um Alien. O som entrando pela janela que você cerrou para se defender do ataque à sua consciência. Você rezando para que o sinal mude de cor, fique verde, não de esperança, mas verde de fuga. Sinal livre para escapar do rosto da menina grudado na janela. Sujando seu patrimônio. Obrigando-o a tomar conhecimento da miséria dela. Você, que paga seus impostos em dia, colabora com a campanha do agasalho, que até é um cara bacana. Subitamente transformado em réu no tribunal do sinal fechado por um rosto ranhento de criança. Você, quase com certeza, ouviu esse hino. Pois saiba. A menina que o compôs morreu no domingo. Nunca mais ela assombrará a sua janela.” 

Informações Técnicas 

Ano de Lançamento: 2006
Editora: Arquipélago Editorial
Número de Páginas: 208 

A autora do livro, Eliane Brum, é uma jornalista, escritora e documentarista brasileira. Trabalhou como repórter do jornal Zero Hora e na Revista Época. A jornalista possui atualmente uma coluna quinzenal no jornal El País e também é colaboradora do jornal britânico The Guardian. Tem seis livros publicados e conquistou mais de 40 prêmios nacionais e internacionais de reportagem. A vida que ninguém vê foi reconhecida com o Prêmio Jabuti 2007 de melhor livro de reportagem. 

É importante ressaltar a sensibilidade da autora, que escolhe as palavras e frases certas nos momentos ideais. Brum é uma incansável caçadora de histórias que consegue contar com maestria uma pequena parte da vida de humanos anônimos. Ela consegue arrancar do leitor uma dose de atenção e compaixão para essas pessoas que todos os dias são esquecidas. É impossível não se colocar no lugar do outro. Ao enxergar de perto a dor dessas pessoas, nos transportamos para a pele dessa gente que mesmo diante de tanto sofrimento, resiste. 

Gostam de livros assim? já leram alguma coisa da autora?

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