Resenha: O segundo sexo - Simone de Beavouir

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Escrito há 71 anos, "O segundo sexo" é conhecido por muitos como a "bíblia" do feminismo. Não sei se pelo tamanho dele, pelos diversos conceitos e histórias ali presentes ou apenas por ser a primeira obra a abordar o termo "feminista". É sabido, contudo, que esse livro foi um marco na história e como me considero uma mulher feminista (alguém que busca e acredita que homens e mulheres devem ter as mesmas oportunidades em todos os âmbitos da vida independente do gênero), essa é uma leitura que via como indispensável para aprimorar meus conhecimentos.

Antes de mais nada, é importante salientar que segundo sexo é dividido em dois volumes. O primeiro diz respeito aos fatos e mitos sobre as mulheres, já o segundo analisa a condição da mulher em todas as suas dimensões: sexual, psicológica, social e política. Ele é um livro com uma escrita muito técnica, repleto de referências e exemplos, o que pode tornar a leitura bastante densa e diferente daquilo que estamos habituados.

A primeira parte do livro chama-se destino e aborda aspectos biológicos e psicanalíticos da mulher. Esse trecho é bem denso, muito arrastado e que exige muita atenção na hora da leitura. São necessários alguns conhecimentos à parte para melhor compreensão, além de muito interesse para não desistir da leitura logo de cara, já que é um trecho bem monótono no qual são expostos muitos conceitos e pensamentos de diversos teóricos. 


A parte histórica é retratada na segunda parte do livro, assim como a condição social e econômica da mulher é analisada no decorrer dos tempos. Essa foi para mim uma parte mais proveitosa da leitura, já que foi uma parte que pude perceber mais semelhanças com o que já conhecia. Nesse trecho, vemos toda a questão das mulheres serem voltadas a contemplar as conquistas dos homens e daquilo que eles desejam.

"Voltada à procriação e às tarefas secundárias, desposada de sua importância prática e de seu prestígio místico, a mulher não passa desde então de uma serva."

O primeiro volume se encerra tratando da questão mitológica. Se pararmos para analisar, o papel da  mulher nos mais diversos mitos, histórias contadas por um povo ou religiões, ela é sempre vista como o outro, algo retratado como mal, impuro, elemento de perturbação e tentação. Essa é uma espécie de metáfora para deduzir que a submissão, a vassalagem, a renúncia do que é ou busca ser faz dela um ser melhorado, menos indigno. 


No segundo volume nos é apresentada a questão da formação, situação e justificações. Essa parte é iniciada justamente com uma das frases mais conhecidas de Simone de Beavouir: "Ninguém nasce mulher, torna-se mulher." Logo, a autora visa esclarecer que a afirmação de que as mulheres nascem “femininas” e devem ajustar-se ao que esse conceito supõe, em seu tempo e sua cultura, está equivocada. A partir de diversos papéis da mulher (mãe, esposa, prostituta), ela mostra como a mulher é condicionada a ser deixada de lado, para exercer papeis em que privilegia o sexo masculino, os filhos ou o esposo.

"Não acredito que existam qualidades, valores, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade".

Ao iniciar a referida obra é preciso levar em conta a questão da época na qual o livro foi escrito, assim como a ideologia da autora, as condições em que vivia e como ela estava inserida na sociedade. Simone nasceu em 1908, em Paris, e é uma das mais influentes autoras sobre o feminismo. Logo, na maior parte do tempo, são destacados exemplos e vivências de uma determinada classe social, de uma determinada região geográfica. Se a mulher em questão é sempre vista como o outro, imagine a mulher negra, periférica e com uma situação de vulnerabilidade social e econômica. É o outro do outro, infelizmente.


Apesar de ser publicada no ano de 1949, a obra possui muitas semelhanças com os dias atuais. Ainda assim, é preciso ter a mente aberta para absorver o máximo possível de informações para só assim tomar as devidas conclusões, já que a escrita da autora é bem diferente do que a maioria pode estar habituada. 

A publicação foi alvo de muita polêmica e escândalos na época em que foi lançada, principalmente no âmbito da igreja católica e do governo da união soviética, pois aborda a menstruação, o prazer feminino e outros detalhes em sua narrativa de maneira clara. O segundo sexo é um livro necessário, que apesar de possuir uma escrita muito técnica e por vezes monótona, traz a emancipação feminina como foco central da narrativa, incentivando a mulher a se realizar por meio de projetos próprios, não apenas os impostos pela sociedade patriarcal.

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