Texto: Desculpe pela demora, meu lugar foi sempre aqui.

Tenho chegado há semanas em casa super cansada. Dor de cabeça chata, cabelo bagunçado, cheiro de stress e uma vontade incontrolável de dormir. A rotina é a mesma, despertador, banheiro, pão e café, correria, ônibus, trabalho, ônibus e cama. Não sei o que são finais de semana, conversas com amigas até as duas da madrugada, redes sociais a manhã inteira ou sms com o gatinho da festa passada, e por incrível que pareça é inevitável mudar o ciclo.

Eis que um belo dia, mas da mesma maneira estressada e desastrada de ser, que abro a porta do apartamento, despejo a bolsa e a papelada no sofá e corro pra minha cama, deparo-me com a estatura de um cara alto, magro de cabelo arrumado e cheirinho de bebê que está em frente a minha cama, me olha nos olhos e com a maior cara de pau do mundo diz

_ Desculpa a tentativa de parecer um bom moço, eu sou mesmo é um desastre. Tentei te ligar a semana passada várias vezes, mas seu celular está sempre desligado. Viajei 210 km  e fui na casa da sua mãe perguntar se um corpo jazia por lá e ela disse que não tinha noticias suas há semanas. Fui à 3 festas em uma mesma noite a procura da garota mais louca, baixinha e que não sabia cantar aquele tipo de música, e mais uma tentativa fracassada. Eu sei que não é o melhor momento, mas eu te deixei esperando por mim durante 6 meses, eu te troquei por uma pessoa que nem sabia meu nome do meio, e percebi que eu fui o cara mais leso por te perder.

Sabe aquela vontade de bater em uma pessoa e ao mesmo tempo gritar de felicidade? A de dar um chute na parede e se abraçar com ela depois? De jogar dinheiro pro alto e depois sair catando tudinho? Foi o que eu senti naquele momento. A pessoa que mais tinha me decepcionado nos últimos anos, um alguém que me fez chorar durante noites e sorrir por 3 minutos e mesmo assim continuar amando tava bem na minha frente, todo encharcado da chuva lá fora e com o mesmo sorriso da primeira vez que o vi. Minhas vontades eram tantas, mas minha única reação foi dizer:

_  Preciso de um abraço.

E o abraço virou nostalgia, que virou cheiro no pescoço, mordida na orelha, conversas do passado e uma noite que eu vou lembrar durante muito tempo. Acordei e não pensei na minha rotina, que se dane a rotina! Do meu lado, sentado na cama, o idiota de sempre olhava pra frente e estava com os pensamentos mais pra lá do que aqui. Num impulso, ele riu, olhou pra mim e apenas sussurrou:

_ Desculpe pela demora, meu lugar foi sempre aqui.